JOVENS CONTAM COMO É A VIDA CONVIVENDO COM A AIDS, DESTACA A GAZETA


Aos 30 anos, o gerente de marketing João Geraldo Netto fez o que poucos têm coragem: declarou publicamente o seu amor e pediu o namorado em casamento, em uma praia. E mais: postou o vídeo - que já tem mais de 72 mil acessos - no Youtube. Assustador? Não para esse carioca, que há cinco anos recebeu o que já foi a mais assustadora das notícias: descobriu estar infectado pelo vírus HIV. E o noivo? "Ele sabe, e somos muito resolvidos quanto a isso. Ele não é soropositivo. Todos da minha cidade sabem e nunca sofri preconceito", conta o rapaz, que mora em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

No início, claro, o medo tomou conta, como ele admite. Mas depois foi vendo que a vida continuava, normal. Sem manifestar a doença e sem tomar remédios, muitos dos pacientes lembram que são soropositivos somente quando conversam sobre o assunto. Com João é exatamente assim. "Não me sinto doente. Quero me casar, comprar um apartamento, viajar. Quero ser feliz."

Encontro

É para acabar com os mitos que envolvem a doença que ele e outros 89 jovens, entre 15 e 29 anos, vindos do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e de algumas regiões do Estado participam, desde a última quinta-feira, do II Encontro Regional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/AIDS, que acontece em Pedra Azul, região Serrana do Estado.

O objetivo é apoiar o jovem e o adolescente que vive com Aids ou com alguém soropositivo e levá-lo a ter mais conhecimento sobre a doença. A troca de experiências com outros meninos e meninas – alguns com Aids desde o nascimento, quando a doença é passada pela mãe – é fundamental".

A Aids não é considerada uma doença fatal desde 2002. Só morre de Aids quem quer", ressalta a chefe do ambulatório de HIV/Aids/Hepatites Virais do Hospital das Clínicas, Tânia Reuter. Ela explica que os medicamentos podem causar alguns efeitos colaterais, mas até para isso há saída: "Basta a pessoa conversar com o seu médico que ele vai apontar alternativas para minimizar o desconforto", salienta.


Inimigo número 1

A falta de informação é o pior inimigo de quem descobre ser soropositivo, apontam os médicos. "Comecei a pesquisar na internet sobre a sobrevida das pessoas com Aids e lia que elas tinham apenas de cinco a oito anos de vida. Ficava desesperado. Mas depois vi que as informações não eram confiáveis, e procurei a ajuda de uma psicóloga para saber como enfrentar isso e contar para a minha mãe", conta o estudante de Administração Diego Collisto, 23 anos.

Só assim ele conseguiu se recuperar do choque de saber, após a morte do ex-marido, com quem morou por três anos, que havia sido infectado pelo vírus HIV. "Fiquei em choque. Demorei dois meses tentando pôr o pé no chão". Hoje Diego se dedica a ajudar outros jovens que passam pela mesma situação. "Falta acolhimento assim que se recebe o diagnóstico. Não podemos receber uma sentença de morte", alerta.




"Quando soube que tinha sido infectado quase surtei. Mas isso mudou. Vi que o conhecimento ajuda muito a ver que é possível ter uma vida normal, como qualquer outra pessoa tem"


Vivendo com o HIV

Acolhimento que mudou a vida da carioca Rafaela, 21 anos. Ela não sabe o que é viver sem Aids. Infectada pela mãe, nasceu com a doença. Seus pais morreram por conta do vírus e desde os 2 anos ela é criada pelos tios.
"Meus tios sempre souberam como lidar com isso. Quando era pequena, quando me perguntavam que remédios eram aqueles que eu tanto tomava, eu dizia que era para me deixar mais forte", lembra.
Recebendo acompanhamento médico e psicológico desde pequena, aos 7 anos ela quis saber o que, afinal de contas, era aquele "bichinho" que tinha dentro dela do qual tanto falavam. Isso a tornou diferente das outras meninas da sua idade? Sim e não. Já namorou, estuda e tem sonhos e planos como qualquer jovem. No entanto, já passou por situações que a deixaram constrangida".
Uma vez fui ao médico, porque estava resfriada. Toda a minha família estava. Aí ele perguntou para a minha tia se eu tomava algum medicamento, e enquanto ela relatava, disse também que eu era soropositiva. O médico disse: 'então é por isso que ela está doente, oras'. E não era. Eu só estava resfriada como todo mundo. Me senti muito mal pelo jeito como ele me tratou".
Mas ela também lembra de um dos momentos que a deixou mais feliz. "Foi quando contei, pela primeira vez, para uma amiga da escola, que eu tinha Aids. Foi como tirar um piano das costas. Ela estava cheia de dúvidas, mas não me rejeitou. Ela confirmou que nossa amizade era verdadeira".


Os números

A reunião de jovens com HIV/Aids acontece a cada dois anos, em diferentes partes do país. "A ideia é quebrar a barreira da exposição, pois há ainda muita gente que tem medo de falar que tem HIV/Aids. E é porque elas sabem que existe ainda muito preconceito dentro do mercado de trabalho, no meio familiar, nos relacionamentos... E é isso que tem que mudar", explica o coordenador do encontro, Rafael Barros.
A cada ano, 33 mil pessoas são infectadas pelo vírus HIV no país e 11 mil morrem por conta da doença. A faixa etária em que a doença é mais incidente, em ambos os sexos, é a de 25 a 49 anos. De 13 a 19 anos, o número de casos é maior entre as meninas. "Nosso desafio é diminuir esses números", diz o assessor técnico do Ministério da Saúde, Rubens Duda. E para isso, de novo, o melhor caminho é falar sobre o assunto.
Foto: Carlos Alberto Silva - GZ




"A primeira coisa que a gente pensa é que vai morrer. Mas você começa a enxergar que existe uma porta, e você tem que decidir se vai abri-la e se vai seguir adiante. Foi o que eu fiz"

Serviço


Site: www.jovenspositivos.org.br
No site, os jovens podem se afiliar, de forma anônima, para trocar experiências sobre HIV/AIDS


A aids por aqui608 mil
É o número de casos registrados de AIDS nos últimos 31 anos, no país

7,9 mil
É o número de casos de Aids registrados no Estado, entre os anos de 1985 e 2012


Fonte: A Gazeta

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A REDE JOVEM RIO+ é um Movimento Social Estadual, sem vínculo político-partidário ou religioso, constituído fundamentalmente por adolescentes e jovens entre 12 e 29 anos, atuando na inclusão social, na promoção do fortalecimento biopsicossocial e do protagonismo destes, independentemente de sexo, identidade de gênero, sexualidade, credo, cor, etnia, nacionalidade, naturalidade, escolaridade, classe social e sorologias

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