Jovens apresentam um panorama dos serviços públicos de saúde do Rio de Janeiro para pessoas vivendo com HIV/AIDS

Mobilizar jovens a fim de analisar a oferta de serviço público em saúde para pessoas vivendo com HIV/AIDS no Rio de Janeiro e, com isso, realizar um mapeamento do acesso a direitos sociais e políticas públicas no contexto da epidemia na capital fluminense. Esses foram alguns dos objetivos do projeto Observatório de assistência e direitos sociais em HIV/AIDS e co-infecções do Rio de Janeiro: base de dados para monitoramento e incidência política, realizado pelo Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS), em parceira com a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), e cujos resultados foram apresentados por jovens participantes da iniciativa, no dia 18 de julho e 2013, na sede da ABIA, no Rio de Janeiro.
Seis jovens, da Rede Estadual de Adolescentes e Jovens Vivendo e Convivendo com HIV/AIDS do Rio de Janeiro- REAJVCHA-RJ-, foram selecionados/as para integrar o projeto, que teve duração de três meses e, entre as ações implementadas, realizou oficinas de capacitação no universo das pesquisas sociais, introduzindo informações acerca de metodologia de investigação quantitativa e qualitativa, antes que os/as participantes fossem a campo para a coleta de dados. Sob a coordenação de uma equipe interdisciplinar, composta por Katia Edmundo, Juliana Maio e Juan Carlos Raxach, integrantes da ABIA e do CEDAPS, os/as jovens também tiveram um treinamento quanto ao uso do MootiroMaps, uma ferramenta de plataforma livre que permite a elaboração de mapeamentos colaborativos e que foi utilizada para a organização das informações coletadas.
Para Juan Carlos Raxach, também assessor de projetos da ABIA, a escolha por se trabalhar com jovens teve um sentido específico, diante dos dados epidemiológicos da AIDS no Brasil. “A principal população afetada pela epidemia de HIV/AIDS são os jovens e, entre eles, os jovens homens que fazem sexo com homens (HSH). As novas gerações, representadas pelos adolescentes e jovens, têm a possibilidade de ‘mudar o mundo’. A participação ativa em projeto como este lhes possibilita contribuir e contar com dados que lhes permitam, entre outras coisas, a cobranças de políticas públicas específicas”, destaca Juan.
Além desta etapa de capacitação, outro momento do projeto Observatório consistiu em desenvolver um roteiro para a atividade de campo, composta não apenas pela realização de entrevista semiestruturada, mas também por ações baseadas na metodologia Construção compartilhada de soluções em Saúde, certificada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil e desenvolvida pelo CEDAPS. Segundo Katia Edmundo, coordenadora executiva da ABIA e diretora executiva do CEDAPS, “esta é uma metodologia resultante do diálogo permanente entre com comunidades e grupos com os quais a instituição vem trabalhando ao longo de seus anos de atuação”.
Na ida a campo, os/as jovens analisaram diferentes aspectos dos postos de assistência médica e centros municipais de saúde visitados, entrevistando também profissionais de saúde e usuários/as dos serviços vivendo com HIV/AIDS e observando desde a disponibilização de teste de HIV, até os serviços mais complexos, como o tratamento da síndrome lipodistrófica. Ao todo, foram levantadas informações em nove postos e centros de saúde, sendo que em sete houve a visita de pesquisadores/as e em outros dois o contato foi feito por telefone. Distribuídas pelos bairros do Flamengo, Santa Cruz, Praça da Bandeira, Bangu, Campo Grande, Irajá, Centro e Madureira, essas unidades foram escolhidas, em conjunto com interlocutores/as do projeto, por apresentarem caraterísticas como grande concentração de pacientes, reclamações em função da demora de agendamento de consultas, longo intervalo entre uma e outra consulta e, por fim, pela falta de acompanhamento integral.

Saúde no estado do Rio de Janeiro e alguns resultados

Entre os resultados observados a partir deste mapeamento, Ruana Carolina Araújo Corrêa e Rafael Agostini, jovens participantes do Observatório, destacaram a não identificação de distribuição de preservativos nos locais visitados, de forma que em uma unidade de saúde era necessário apresentar receita médica para solicitar uma cartela de camisinhas, sendo disponibilizada apenas a pacientes soropositivos. Diante destas dificuldade de acesso, os/as participantes questionam: “Ora, se há incessantes propagandas do governo federal nos dizendo sobre a quantidade estratosférica de preservativos comprados para serem distribuídos no serviço público e em campanhas focalizadas, onde eles estão?”.
  
Alguns dos outros pontos observados pela pesquisa foram:
  • Inexistência de tratamento para síndrome de lipodistrofia;
  • Disponibilização de profilaxia pós-exposição ao HIV/AIDS apenas em duas das unidades visitadas;
  • Presença de dispensação de medicamentos antirretrovirais em todas as unidades pesquisadas. Entretanto, em tais locais, observou-se a falta de algum medicamento não-antirretroviral, para a profilaxia de doenças oportunistas;
  • Exames de CD4 e CV, principais instrumentos no acompanhamento da evolução da infecção, são realizados apenas uma vez por ano, contrariando recomendações dos consensos terapêuticos para o acompanhamento a pessoas vivendo com HIV/AIDS.
Para Ruana e Rafael, a participação no projeto Observatório representou uma oportunidade de ampliar os conhecimentos acerca da realização de pesquisas. “Participar deste projeto foi extremamente enriquecedor, pois éramos jovens com um objetivo em comum, mas vivências diferentes. E conviver com elas foi algo difícil e fundamental. Uns ainda nunca haviam tido contato com pesquisa de campo, e outros eram estudantes da área de Ciências Sociais, com experiência em pesquisa, mas não na medida que era pedida, em termos de pesquisa qualitativa”, analisam os/as jovens pesquisadores/as. Segundo eles/as, “no momento, a vontade que fica é que os resultados obtidos se desdobrem em modificações reais e positivas para os usuários e os funcionários do sistema de saúde”.
O mapeamento da pesquisa desenvolvida pelo projeto Observatório, a partir do uso da ferramenta MootiroMaps, pode ser acessado em http://maps.mootiro.org/project/80, de maneira que continuará sendo alimentado por dados. Em breve, a ABIA e o CEDAPS publicarão boletim com os resultados da pesquisa, com a expectativa de colaborar para a formulação de políticas públicas de saúde e para que o direito à saúde de pessoas vivendo com HIV/AIDS no Rio de Janeiro seja efetivamente garantido. Na avaliação de Juan Carlos, “os dados, ainda que simples e modestos, refletem a realidade que estamos vivendo na rede de saúde e no acompanhamento às pessoas vivendo com HIV/AIDS no Rio de Janeiro”.

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