Pediatra Jorge Pinto explica implicações do anúncio da “cura funcional” da bebê norte-americana para a saúde pública brasileira e mundial
Jorge Andrade Pinto é professor titular do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e lidera o grupo de pesquisa em HIV/aids materno infantil da universidade. É assessor do Ministério da Saúde como membro do Comitê para Terapia Antirretroviral em Crianças e Adolescentes e do Comitê de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, membro do Comitê Científico de Terapia Primária da Rede de Ensaios Clínicos em HIV/Aids em Crianças, Adolescentes e Gestantes do Instituto Nacional de Saúde dos EUA e do Grupo de Referência Técnica em HIV Pediátrico da Organização Munidal da Saúde. Nesta conversa, o pediatra explica as implicações do anúncio da “cura funcional” da bebê norte-americana para a saúde pública brasileira e mundial.
Em primeiro lugar, o que significa “cura funcional”?
Cura funcional é definida como a supressão permanente da replicação viral e diminuição significativa dos reservatórios virais, sem que haja eliminação completa da infecção, permitindo remissão duradoura dos sintomas e interrupção de ARVs.
Qual é a diferença entre erradicar o vírus e torná-lo indetectável?
Como dito acima, você torna o vírus indectável com o uso de ARVs. Isso acontece com a maioria dos pacientes que fazem uso adequado da TARV. Entretanto, a supressão permanente ou prolongada (note que não é erradicação), mesmo após a suspensão da TARV é fenômeno incomum, daí o interesse pelo relato do caso em foco.
O fez a diferença para que houvesse cura, nesse caso?
Tratamento precoce, iniciado com 30 horas de vida. É possível que haja alguns fatores imunológicos inerentes à própria criança que tenham facilitado o controle da replicação e a redução dramática dos reservatórios virais.
O que os resultados dessa pesquisa significam para a saúde pública mundial?
É um estudo que prova um conceito, qual seja, o tratamento precoce de bebês infectados ainda nas primeiras horas de vida tem o potencial de promover a "cura funcional do HIV". Antes que possa ser aplicado como recomendação de saúde pública, esse achado deverá ser confirmado em protocolos de investigação clínica em outroas recém-nascidos. Esses protocolos já estão sendo elaborados no âmbito da Rede Internacional de Ensaios Clínicos em HIV/AIDS em Crianças Adolescentes e Gestantes (IMPAACT--International Maternal Pediatric and Adolescent AIDS Clinical Trials), financiada pelo NIH, com a participação de vários centros brasileiros (UFMG, UFRJ, HSE-RJ, USP, UNIFESP, FIOCRUZ, entre outros).
E para o Brasil, o que esse estudo tem a contribuir?
Se esses achados forem corroborados pelos estudos clínicos em planejamento, podem modificar as recomendações de manejo dos recém-nascidos expostos e/ou infectados em nosso meio, contribuindo para alcançarmos ainda mais rapidamente a meta de erradicação da transmissão vertical do HIV no Brasil.
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